photo-studies for a film (2017)
NOTA DE INTENÇÕES DA AUTORA: A 21 de Fevereiro de 2020, tornou-se viral um vídeo captado por um grupo de jovens rapazes que, no seu Mercedes, corriam a 300 km/h sobre a Ponte Vasco da Gama. O vídeo descrevia os minutos que antecederam o acidente que os vitimou mortalmente. O ligeiro de passageiros em que seguiam despistou-se na A2 às 00h50 mas, momentos antes, a velocidade ficou documentada no Instastory de uma das vítimas. Este episódio voltou a despoletar uma discussão recorrente: o que significam estas corridas ilegais para quem nelas participa? Porquê arriscar a própria vida a acelerar? O que significa exibir publicamente essa transgressão? Porque é que, com a morte precoce de Laura Salvo aos 21 anos, a 10 de Outubro de 2020, no Rally Vidreiro da Marinha Grande, não deixamos de recordar James Dean, emblema da fúria da juventude, extinto num acidente fatal por excesso de velocidade? Se o carro, hoje acessível a todos, é emblema da remodelação da sociedade de consumo pelo fordismo, será também o primeiro meio da necessidade de fuga dessa mesma sociedade pós-industrial, em ponto de excesso e de desintegração? Através de uma investigação em proximidade que se inicia na terra onde cresci, Marinha Grande, TURBOLÂNDIA propõe uma visão compreensiva e globalizante da cultura automóvel em Portugal, reflectindo sobre o seu papel simbólico junto das camadas mais jovens. Sem retratar exaustivamente todos os fenómenos da cultura automóvel, procuramos perceber o seu impacto nesta pequena região portuguesa. Observamos os inesperados detalhes modificados e a potência dos veículos que poderiam fugir, mas correm em círculos. Na intimidade de um retrato próximo, a narrativa ilustra o impacto do fenómeno automóvel numa região pouco urbanizada do território nacional, onde a oferta cultural escasseia. Os membros da LN Team são os protagonistas de uma estória que se materializa com contornos reais. Pela calada, estes jovens rapazes na casa dos 20 passeiam-se em veículos ‘‘tunados’’. Uns sabem como é que um motor arrefece melhor e como é que se tira peso ao carro. Outros desejam apenas passear com viaturas modificadas, instalando ailerons que jogam com as jantes e um sistema de som que se faz ouvir ao longe. Colaboram nos projectos uns dos outros. Escapam estrategicamente aos radares e à polícia e, porque hoje a lei aperta, os carros tornaram-se menos vistosos por fora mas mais potentes por dentro. Testam-nos entre si. Colocam turbos. Melhoram os motores para corridas de velocidade. Percebem de mecânica especializada. Mandam vir peças. ‘‘Picam-se’’ com conhecidos e desconhecidos. Uns desejam a adrenalina máxima, outros procuram segurança a todo o custo.
E porque rapidamente se evolui do tuning ao drifting, vamos percebe a legalização de circuitos e a fiscalização automóvel em Portugal, que reduziu drasticamente as corridas ilegais e os carros ostensivamente modificados, essencialmente transformando a modificação automóvel em depuração da performance. As novas pistas tiraram os carros das ruas e trouxeram dignidade ao desporto. Quem são estes ‘‘tuners’’? Quem são estes ‘‘racers’’? Quem são estes ‘‘drifters’’? Porque é que uns arriscam em modificações que lhes custam apreensão de documentos? O que sentem ao correr? Mesmo que, aparentemente, possa parecer fútil, a transversalidade do fenómeno automóvel desdobra-se em vários ângulos que problematizam a psique humana. Por via do risco, aqui o ser humano parece ausentar-se temporariamente do seu instinto mais basilar: a preservação de si e da sua integridade física. Que espécie de loucura é esta, afinal? Na decadência de um mundo dependente dos combustíveis fósseis, são os próprios racers/drifters que inventam novas soluções para a continuação das suas práticas, como a horizontalidade do trabalho colectivo ou o biodrifting (a partir de óleos usados), continuando a competir mas preservando uma consciência ecológica e economia de recursos. Ensaio o projecto TURBOLÂNDIA próxima à realidade que o inspirou. Desconstruindo estereótipos e preconceitos, fujo veementemente da apresentação caricatural, moralista ou simplista, propondo às imagens um desafio: como dar a ver o tédio que reina nas comunidades onde a cultura automóvel prolifera? SABRINA D. MARQUES









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