photo-installation (2016)
Artistic Residence with Mehdi Jahan
AUTHORS' POINT OF VIEW: In between Portugal and India, two photographers (The Telepathicams) get together to develop seven chapters, around the theme ''GET BORN'', general chorus to a series of artistic residences promoted by the Germinal Gallery since the second semester of 2016. The project LIFE INSIDE THE EGG is distributed in a sequence: Body Unit - Common Limits - Polarities of Desire - Bodies Against Bodies - Political Physiognomies - Farewell to Conscience - Nadificar -- to progressively study, through the photographic essay, the collective wish to be one with the whole. What Freud/Rolland would call the Oceanic Feeling is, in the end, the elision of the unity of the Self, in direction to the unity of the common, with a spiritual sense of communion with the living world. To regain a key-word from the existentialist theory - this active progression is a gesture of Nothingness (nadificar).
Beatriz Brás, Sérgio Coragem, Patrícia Saramago, João Figueiredo, João Lopes, etc

''Um homem pode ser ele próprio apenas se estiver sozinho; e se ele não ama a solidão, ele não ama a liberdade; porque é somente quando está só que é livre." Schopenhauer
A ideia de espaço privado encontra-se sob mutação constante. Se formos ao encontro da concepção clássica, que faz corresponder autonomia do espírito a confinamento físico, chegamos à modelação do conceito de ‘‘abrigo’’, uma ideia de um espaço onde regressamos disponíveis para sermos nós mesmos por inteiro, libertos das pressões do mundo exterior. Um ‘‘abrigo’’ é o ponto de retorno, o centro na circunferência na vida do ser. A ideia de liberdade decorre desta liberdade constante: o regresso a um abrigo, a um ventre, ao 'self'. Um abrigo como um espaço onde ser livre.
''No tempo presente, o que somos capazes de reter desta ideia de liberdade? Encontramo-nos verdadeiramente livres numa sociedade que se tornou num pesadelo orwelliano? A definição de abrigo / espaço privado sofreu modificações drásticas nos tempos recentes. Será o nosso espaço privado verdadeiramente privado? Do que é que hoje um abrigo nos abriga? A modernidade significa também um mundo exterior em colisão com o espaço privado e a mente do homem contemporâneo encontra-se sob domínio em tal extensão que é a ideia de privado que está em questão. As fendas ao espaço privado tornam-no hoje ilusório, um espectro digno somente de ser representado. O espaço privado é, em simultâneo, tanto o desejo último do homem, instigado pela exposição dos média que a toda a hora lhe propõem soluções de evasão, como um lugar onde, ironicamente, se instalam todas as ansiedades que decorrem dessa mesma exposição aos média. Se um homem só é um homem a sós com os seus problemas, o abrigo, antes o destino central do mundo do homem, torna-se agora a sua prisão.''


A VIDA DENTRO DO OVO
''possibilidades por cumprir''
Nadificar


















A sociedade de consumo explora e alimenta-se deste complexo de inferioridade, deste permanente estado de falta e de desilusão que se tornou hoje o primeiro combustível de toda a maquinação do desejo. O confinamento experienciado pelo homem contemporâneo tem uma implicação directa na sua relação com o outro. Penso nas funções simbólicas desempenhadas por Eros, figura mitológica reentendida em termos
freudianos como a força vital (lifeforce), energia que ajuda o homem a criar:
‘‘No início havia apenas o Caos (Nyx), a Escuridão (Erebus) e o Abismo (Tartarus). A Terra, o Ar e o Céu ainda não tinham existido. A princípio, a asa negra da Noite pôs um ovo infértil no limite das profundezas infinitas da Escuridão e, daí, depois da revolução das longas eras, surgiu o gracioso Amor (Eros) com as suas cintilantes asas de ouro, rodopiando com os redemoinhos da tempestade. Ele acasalou o Abismo profundo com o negro Caos, também ele alado, e aí germinou a nossa raça, que foi a primeira a ver a luz.’’
Aristófanes (Pássaros)
‘’Eros é o derradeiro desejo de totalidade e mesmo que a início tome a forma do amor apaixonado é verdadeiramente um desejo por comunhão psíquica, um desejo por interconexão e interacção com outros seres emocionais.’’
Robert H. Hopcke (A Guided Tour of the Collected Works of C.G. Jung)










Political Physiognomies




imagens da realidade / imagens por realidade
Farewell To Conscience
"Tão finitos somos nós que precisamente não somos capazes de nos colocar originariamente diante do nada por decisão e vontade próprias." HEIDEGGER
Bodies Against Bodies




O VALOR DO ''TORNAR-SE'':
Fazendo uso das palavras de Bernard Stiegler, podemos afirmar que o mapeamento possível da pluralidade assenta numa coexistência simultânea do Eu e do Outro no mesmo espaço-tempo, mas também numa consciência da diferença entre o Eu e o Outro - distingue o que Eu sou, dentro das fronteiras de um quadro ontológico limitado, do que o Outro é. Nesta escala de comparações, o espaço-valor é o tornar-se – a meta utópica para que o que Eu sou corresponda ao Eu que desejo ser – uma tendência do desejo que existe apenas porque existe consciência do outro, do que está fora do Eu.
“... Uma operação física, biológica, mental ou social, através da qual uma actividade se propaga de uma localização para outra (de proche en proche), dentro de um perímetro específico, baseando esta propagação na estruturação do domínio operante de um lugar para outro (de place en place) : cada região da estrutura constituída serve à região seguinte como princípio e modelo, como um início (amorce) da sua constituição, para que a modificação se extenda progressivamente ao mesmo tempo do que esta operação estruturante.” Simondon em L’individuation psychique et collective



Como é que a contemporaneidade reage à ideia de amor romântico?
Se
os media plantam imagens que se alimentam o desejo individual, quantas vezes estas imagens controladas não entram em conflito com as tendências naturais do indivíduo? Uma vez que o homem já não possui verdadeiramente abrigo, o desejo por um outro corpo constrói-se intensamente sobre essa falta. Apesar do homem estar cada vez mais distante de si próprio, vive constantemente numa vanglória busca por completude, por totalidade, por união, contexto que enquadra uma concepção de amor romântico que se suspende como uma possibilidade total, uma finalidade última. Alimentado pelo seu desejo por cumprir, a realidade individual constrói-se sobre um permanente ponto de paradoxo entre a experiência humana e as ilusões projectadas pela sociedade. E as ilusões são a tal ponto poderosas que a experiência individual parece sempre comparavelmente inferior. A realidade decresce face às suas representações.


Criar. Re-estabelecer uma conexão com um mundo que nos escapa dia após dia.



''Pertencemos à era da distracção. Há uma ofensiva de imagens a atacar-nos em base diária sem que estejamos verdadeiramente cientes disso. Estas imagens manufacturadas são perpetuadas pelos media na sua redução das coisas à forma mais vulgar. Na lógica diária, vivemos aprisionados num estado de comparação, que reduz a nossa capacidade de estabelecer uma ligação significativa ao mundo interior e, por
conseguinte, exterior. O próprio gesto de comparar é redutivo mas é por comparação que somos submissos à máquina capitalista.
O que atribui qualidades às coisas é a sua comparação com outras coisas. Mas as imagens são sempre mais atraentes. A representação é mais atraente do que a coisa em si. Somos prisioneiros de pensamentos sobre coisas porque somos reféns da posse de coisas. As coisas são o que nos arrasta numa direcção comum onde o Eu (self) contém um peso facilmente rejeitado. A cultura consumista soterra o ser humano nos seus pertences e na vontade de mais pertences e é assim que andamos amputados da experiência sem que nos apercebamos.''

